Santoestevense Tássio Santos lança livro que analisa o mercado brasileiro de maquiagem sob a perspectiva racial









Das bases em uma quantidade reduzida de tons às fórmulas que invariavelmente acinzentavam a pele preta, o racismo pôde ser sentido anos a fio no Brasil também na indústria da beleza. A história conta que os primeiros cosméticos que chegaram em solos nacionais vinham da Europa, portanto, não eram inclusivos aos múltiplos fenótipos do País. Foram necessários centenas de anos para que o mercado passasse a olhar para a população racializada e, finalmente, atendesse suas necessidades.

Em um período em que surgiam blogs aos montes, um jornalista baiano decidiu falar sobre a beleza sob uma perspectiva inesperada. Há 11 anos, o também maquiador profissional está à frente do Herdeira de Beleza, canal do YouTube e perfil no Instagram de resistência negra onde a cultura é analisada através dos cosméticos. “Eu acredito que as marcas, principalmente de maquiagem, podem dizer muito sobre a história do Brasil, sobre padrões de beleza, sobre negritude”, conta Tássio Santos em entrevista à Glamour.

Nas redes sociais, ele foi responsável por colocar à prova lançamentos nacionais e internacionais indo na contramão de um mercado que tecia elogios a todo custo aos produtos disponíveis. Com resenhas embasadas e criteriosas que ganharam força de uma comunidade que também vivia o descaso da indústria na pele, ele se tornou um dos principais nomes a questionar a indústria nada inclusiva que, por consequência, conveniência ou mais consciência, passou a, finalmente, olhar para este público.


Desde 2020, ele se dedica a um novo projeto: o de escrever um livro. "Tem minha cor?: Quando se maquiar se torna um ato político", Editora Telha, chega às prateleiras neste mês. “Queria levar o tempo que fosse necessário para me dedicar a esse livro e fazer com que o material fosse útil na vida das pessoas por muito tempo, não queria que fosse um conteúdo instantâneo. Eu quero que esse livro seja útil durante muito tempo”, explica o escritor, que se dedicou a investigar as raízes do racismo e o mercado da maquiagem. No papo a seguir, ele explica mais detalhes sobre a nova fase e divide os desafios da escrita.



De onde surgiu a ideia de escrever o livro?


A ideia não foi minha, foi da minha comunidade. Desde que eu comecei a fazer vídeos mais robustos, dar entrevistas para monografia e tese de doutorado, meu público me apontou que seria bom se eu escrevesse um livro porque faltava muita referência que transpassava o mercado de maquiagem. A bibliografia e a indústria literária de beleza ainda são muito brancas, um conhecimento produzido no norte do globo. O livro veio para preencher essa lacuna e em 2020 me senti pronto para escrever.


Como se deu esse processo de questionamento do mercado?


Quando eu não encontrava o meu tom de base em uma loja de maquiagem, eu me sentia muito mal. No momento que eu comecei a contestar a indústria e reivindicar a minha existência através dos cosméticos, eu me senti muito mais contemplado e me senti muito mais visto. Parece que uma parte da minha cidadania foi reconquistada. Isso me trouxe o poder de fortalecer a minha autoestima, me deixou feliz.


Quais foram os maiores desafios que encontrou durante a escrita?


Além do prazo, porque a vida vai acontecendo e a gente vai equilibrando vários prazos ao mesmo temp, o processo de escrita em si foi desafiador. Eu estou há 11 anos na internet, estava acostumado a produzir roteiros e conteúdo através de foto e vídeo; e para colocar tudo o que eu tenho dentro da minha cabeça e dentro do peito em um livro foi difícil porque eu nunca tinha feito isso.